Sempre reforço a máxima de que sem identificação, não há envolvimento. Seja nos relacionamentos, na compra de algum item de nosso interesse, se não há identificação, a química simplesmente não acontece. Parece que a coisa fica “truncada”, o papo não flui, a liga não fixa, os olhares não se encontram, e por aí vai. Com a escrita é a mesma coisa! Se eu leio algo que não entendi, ou que a compreensão se deu com ruídos, as chances de envolvimento com o texto diminuem. Por outro lado, se eu leio algo que entendo, a probabilidade de identificação e de envolvimento aumenta.

Partimos para o meio empresarial. O cliente deseja criar um blog na intranet da sua empresa, com bastante recurso multimídia, interação e notícias sobre a companhia. Tão preocupante quanto a cara que esse novo canal terá é o seu projeto editorial. Quais seções terá, o que abordará, e, principalmente, qual será o tom da sua linguagem (parece fácil aqui, mas isso requer, entre outras ações, análises e pesquisas com o público-alvo do blog). É nesse ponto que entra a questão da identidade. Como fazer com que os colaboradores se identifiquem com esse canal, que “se vejam” nele (não falo aqui da coluna de entrevista com o funcionário)?

Pois bem, no passado, quando tive a minha primeira experiência com revistas empresariais, eu era garoto novo e o desafio que se apresentava era inversamente proporcional à minha experiência à época. Tratava-se da revista interna de um importante órgão que atua no regulamento do setor elétrico. Tudo bem que não estava sozinho nessa, pois tinha, naquele momento, a minha sócia, dez anos mais velha, com experiência para dar e vender no assunto e um conhecimento profundo do cliente.

Mas a minha dúvida era latente (e serve para blogs na intranet, informativos, ou qualquer outro veículo direcionado aos colaboradores de uma empresa): escreverei para quem? Para a secretária, ou para os diretores e corpo técnico? A temática era complexa demais. Dependendo do assunto abordado, se escrevesse para os gestores e engenheiros, por exemplo, outros colaboradores fora da área técnica, como o pessoal do administrativo, ou dos recursos humanos, ficariam a ver navios, sem entender “bulhufas” e com o pensamento de que “esse jornal não é para mim”.

Informação útil e didática

Dentre suas várias facetas, o jornalismo serve para tornar a informação democrática. Na minha opinião, todos dentro de uma empresa têm direito a ela, que deve ser clara, passível de identificação e, de preferência, didática. Achar o meio termo entre não ser redundante para o engenheiro e não falar grego para a secretária é que mora o “X” da questão. Claro que nem todos os assuntos vão ter o mesmo apelo, pois há sim temas específicos a determinados grupos dentro de uma organização. Mas é dever de quem redige pensar no todo, contextualizar a informação aos que não conhecem do tema para, quem sabe, trocar uma ideia com os colegas no refeitório (caso não saiba, além da novela, o blog da empresa também serve de pauta na hora do lanche).

Se conselho fosse bom seria vendido, mas, aproveitando este espaço, deixo aqui o meu: no caso de blogs empresariais, escreva para o entendimento de um número máximo de colaboradores, e não somente para os diretores, presidentes, ou para quem te contratou diretamente. Ou seja, tenha como base da sua escrita o entendimento de quem minimamente conhece do tema abordado. Hoje, as áreas de comunicação das empresas já têm essa cultura e sensibilidade, mas carregue isso com você em seu discurso na hora de fechar um job com o seu cliente. Lembre-se: pessoas são o nosso foco. Quanto mais identificação um produto de comunicação cria com o seu público, mais ele será querido: é daí que surge a “alma” das coisas.