Hoje, ao ler pela manhã um post de um colega de profissão no Medium, fiquei bem intrigado com a pergunta levantada (que, por sinal, também é o título de seu artigo): “Para que serve um jornalista?”. O belo texto faz alusão ao fim das redações e, diante dos inúmeros barcos que estão afundando, como o jornalista, agora órfão, se vê diante desse novo cenário profissional. E aí (reforço eu), para que serve um jornalista? Ao meu ver, se tivermos uma visão extremamente “fossilizada” (como bem descreveu o autor), ou, por que não, repleta de glamour, um jornalista sem uma redação não serve para nada e ponto final. Como bem colocado em seu artigo, “Somos um dinossauro em cima de um iceberg, e o iceberg está derretendo rápido”.
Mas vamos lá! Uma redação não vive sem um jornalista, mas um jornalista, este sim, certamente vive sem uma redação. O que acontece é que muitos jornalistas de redação, principalmente os que trabalham por anos e anos no mesmo segmento (mesmo mudando de empresa, mas mantendo suas editorias), têm maiores chances, diante do esfarelamento das redações, de perder sua autossuficiência. Nada irrecuperável, diga-se de passagem. Pense em um carpinteiro que sabe construir diferentes tipos de móveis. Ele não precisa de uma serralheria para viver, mas o cara que só sabe cortar a madeira, sim. Não estou falando aqui de saber apurar, ter visão crítica, buscar foco na abrangência, entre outras coisas, e sim da capacidade de transpor sua experiência para outros segmentos.
Dependência x independência
Uma vez, em um papo sobre carreira, um amigo me perguntou: “o que é ser independente para você?” De cara, e sem muito saco para pensar no assunto, respondi: “é não depender de ninguém, ou de nada”. Resposta rasa, eu sei. Por outro lado, ele foi categórico em sua conclusão: “o conceito de independência vem da capacidade de depender de várias coisas”. Parece paradoxal, mas é uma grande verdade da vida, ainda mais para o freelancer!
Talvez, o primeiro pensamento que um jornalista possa ter ao ser mandado embora é: onde eu consigo outra editoria para trabalhar? Afinal, eu sou especialista no meu assunto e tenho uma agenda gorda de contatos, com fontes mirabolantes. Quando ele se dá conta, percebe que outras redações, igualmente a dele, estão afundando, com um forte movimento de retirada de profissionais! O cerco vai se fechando e ele vê o fim do funil, quase entupido, chegando. Está difícil para todo mundo, tenha certeza, mas se você não tirar o gesso (que por muitos anos foi o seu cartão de visita e motivo de orgulho), vai ficar ainda mais difícil.
Leia-se por “gesso” a capacidade de ser especialista em determinado assunto. Não quero desconstruir o castelo de ninguém, muito pelo contrário, mas será preciso ramificar sua especialização (e talento) de escrita para outros nichos. Ficar esperando surgir outra editoria para trabalhar, nos mesmos moldes da qual você atuou por anos, pode ser perigoso. Então, mexa-se e entenda como a sua capacidade de escrita pode ser determinante para expandir novos horizontes.
Eu posso me considerar um exemplo. Apesar de já ter trabalhado em diferentes áreas, desde criação, produção de conteúdo à estratégia digital e marketing político, em uma época da minha carreira, eu atuei muito focado na cobertura da indústria da música. Nutri por cinco anos, no site do jornal O Globo, um blog sobre tecnologia musical, chamado Overdubbing, que depois virou um site. Cobri dezenas de feiras em todo o mundo, trabalhando também, em paralelo, como editor da revista Áudio, Música & Tecnologia, uma das mais técnicas do mercado.
Ao mesmo tempo em que curtia demais estar por dentro das novidades, de poder ver em primeira mão os lançamentos da indústria da música e, a reboque, estar em contato com muitos de meus ídolos, um sinal vermelho acendeu. Não que esse alerta disparado em mim, causado único e exclusivamente pelas minhas impressões, tenha sido o fator decisivo da minha retirada parcial desse mercado. Mas eu percebi o tamanho dele e o quanto que uma imersão exclusiva em um campo muito delimitado poderia me restringir lá na frente. Esse foi somente um dos fatores. Outros dizem respeito ao próprio amadurecimento desse nicho. Mas enfim, por ter um perfil multidisciplinar, comecei a explorar novamente outras áreas, muitas delas já alcançadas anteriormente, como a da comunicação empresarial.
O novo marketing demanda, e muito, bons jornalistas
De uns anos para cá, inventaram um tal de Inbound Marketing (não vou explicar aqui, mas com uma breve pesquisa você ficará por dentro do que é) e, com ele, uma enorme gama de técnicas, que tem como eixo central o conteúdo. Parecem que descobriram, também de um tempo para cá, que os textos possuem poderes mágicos de atrair visitantes. E o que isso significa? Que a sensibilidade do jornalista em captar bons assuntos vale ouro para muitas empresas. Quando digo empresa, é qualquer uma mesmo, desde a farmácia do seu “Zezinho”, ao restaurante macrobiótico, seguido da livraria da esquina.
Qualquer negócio, com base nas premissas do Inbound Marketing, pode se tornar uma empresa de mídia e, com isso, ter os seus canais proprietários, formando um público que vai alimentar sua audiência de forma orgânica. Mas o jornalista não pode cair de paraquedas nesse novo paradigma. É preciso estudar, e muito, o comportamento do texto no meio online. Somar à sua sensibilidade e experiência de escrita (um dos maiores diferenciais e vantagens competitivas que se pode ter nesse novo mercado) novas ferramentas. Sim, seu vocabulário deverá constar de termos como métrica, abrangência, engajamento, jornada do usuário, entre tantas outras coisas.
Cada palavra tem um poder de atração diferente para os mecanismos de buscas. Entender de SEO (Search Engine Optimization) e do Marketing de Conteúdo (apesar de ainda não me acostumar com esse termo) passou a ser algo indispensável ao jornalista que queira dar abrangência à sua sensibilidade jornalística na web. Pense nisso se deseja realmente ocupar um lugar de destaque no futuro. Torne cada cliente seu uma nova “redação” em sua vida!
Boas pautas!